Em frente ao espelho e escondida do mundo, suspira calmamente enquanto se olha despida de mentiras mais uma vez. É ela, real e purificada das ilusões que ela cria. Não gosta do que vê nem do que sente. Talvez porque o que ela inventou para o mundo, ela inventou para si mesma, e ao amanhecer, ela não é nada além de um passado atulhado de pecados e um coração destruído…
A água lava a mágoa e as lágrimas do seu rosto vazio.
Lentamente, aplica o corrector e o pó compacto que escondem uma pele que tenta a custo recuperar-se das loucuras da madrugada anterior.
O risco preto esfumado feito pelo eyeliner faz desaparecer a fragilidade tão patente em seus olhos mas que ninguém vê. Combina ainda com o rímel que pinta um quadro de atrevimento que realmente não existe.
O batom rosa cereja cobrem os lábios que um dia beijaram dor e morte e o perfume de frutos silvestres transborda a força que em parte alguma da sua pele existe.
Ela penteia o seu cabelo longo e quando se volta a olhar, o mundo parece ter mudado…ou talvez ela tenha mudado para o mundo. E é quando ela se apercebe que já não é suficiente.
Veste as roupas escuras que lhe dão o ar de menina indestrutível e os saltos a confiança que ela não tem. Ela põe as pulseiras que cobrem os cortes que em momentos sombrios foram versos sangrentos escorrendo pelas suas próprias mãos. Abre a porta e saí para o mundo totalmente renovada.
Respira fundo, coloca o seu melhor sorriso e vive mais um dia de um história que não lhe pertence. Não é ela, é a sua máscara flutuante que vagueia pelas ruas de uma bonita cidade que em tempos viu uma pequena menina cair em pedaços e transformar-se numa mentira encoberta por brilhos e sombras de cor cinzenta.
É assim que ela vive, é isto que ela é…