sábado, 24 de setembro de 2011

Make Up

Em frente ao espelho e escondida do mundo, suspira calmamente enquanto se olha despida de mentiras mais uma vez. É ela, real e purificada das ilusões que ela cria. Não gosta do que vê nem do que sente. Talvez porque o que ela inventou para o mundo, ela inventou para si mesma, e ao amanhecer, ela não é nada além de um passado atulhado de pecados e um coração destruído…
A água lava a mágoa e as lágrimas do seu rosto vazio.
Lentamente, aplica o corrector e o pó compacto que escondem uma pele que tenta a custo recuperar-se das loucuras da madrugada anterior.
O risco preto esfumado feito pelo eyeliner faz desaparecer a fragilidade tão patente em seus olhos mas que ninguém vê. Combina ainda com o rímel que pinta um quadro de atrevimento que realmente não existe.
O batom rosa cereja cobrem os lábios que um dia beijaram dor e morte e o perfume de frutos silvestres transborda a força que em parte alguma da sua pele existe.  
Ela penteia o seu cabelo longo e quando se volta a olhar, o mundo parece ter mudado…ou talvez ela tenha mudado para o mundo. E é quando ela se apercebe que já não é suficiente.
Veste as roupas escuras que lhe dão o ar de menina indestrutível e os saltos a confiança que ela não tem. Ela põe as pulseiras que cobrem os cortes que em momentos sombrios foram versos sangrentos escorrendo pelas suas próprias mãos. Abre a porta e saí para o mundo totalmente renovada.
Respira fundo, coloca o seu melhor sorriso e vive mais um dia de um história que não lhe pertence. Não é ela, é a sua máscara flutuante que vagueia pelas ruas de uma bonita cidade que em tempos viu uma pequena menina cair em pedaços e transformar-se numa mentira encoberta por brilhos e sombras de cor cinzenta.
É assim que ela vive, é isto que ela é…


5 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto e fantástica mensagem à cerca da vida que pensamos conhecer quando olhamos alguém e no fundo nada conhecemos quando essa pessoa fecha a porta de casa e é alguém totalmente diferente

parabéns
Bjs

ema santos disse...

exactamente, era essa a mensagem que tentei passar...obrigada pelo interesse e pelo comentário...
Bjs

Eduarda Monterroso disse...

Para não falar só na perfeição do texto, vamos falar desta fotografia.
A capacidade de reproduzir uma imagem tão indentica ao texto é algo tocante e depois quando olho para a face que não está maquilhada vejo tanta sinceridade e sim talvez alguma fragilidade...Mas sabe o que vejo mesmo? Vejo uma beleza incrivel que não precisa de toda aquela máscara, vejo força mais resistente que qualquer fragilidade, vejo grandes aprendizagens de uma vida que parece ter sido dura

ema santos disse...

ohh nem sei bem o que dizer :'$
é bom saber que alguém que nem me conhece conhece ver tanto

mitra_g_dance disse...

"É ela, real e purificada das ilusões que ela cria. Não gosta do que vê nem do que sente. Talvez porque o que ela inventou para o mundo, ela inventou para si mesma, e ao amanhecer, ela não é nada além de um passado atulhado de pecados e um coração destruído… (...)Ela põe as pulseiras que cobrem os cortes que em momentos sombrios foram versos sangrentos escorrendo pelas suas próprias mãos. (...) Não é ela, é a sua máscara flutuante que vagueia pelas ruas de uma bonita cidade que em tempos viu uma pequena menina cair em pedaços e transformar-se numa mentira encoberta por brilhos e sombras de cor cinzenta.
É assim que ela vive, é isto que ela é…
" Ameiii Lindo