Imaginar as paredes do meu quarto a guardarem segredos de outra voz que não a minha.
Aquele salão sem as melodias do teu piano e o escritório sem as fotografias do pai. A cozinha, aquela cozinha sem o cheirinho da comida da Rosinha!
Estranho não é? Eu que não me apego a "coisas", fui logo me apegar tanto à nossa casa, talvez porque o que vivemos ali, mais ninguém viverá!
Não há nada que eu traria de volta, nem que me arrependa de ter deixado para trás...mas em alguns momentos, sinto vontade de regressar ao passado.
As vezes que me ouviste gritar ali cheia de dores, os silêncios que emitias, a paz que o pai colocava naquele lugar. Alguém conseguirá sentir isso? Dentro daquelas paredes...
Todas as vezes que eu respirei em voz alta, todas as vezes que chorei como se não aguentasse mais e todas as vezes que calei o choro e quase sufoquei. As vezes que eu sangrei sem tu saberes e as vezes em que soubeste e nada fizeste. Todos os teus passos naquele corredor como se estivesses a desfilar e o teu olhar quase mórbido ao perceber que não.
Será que as escadas de dentro ainda lembram dos nossos pés mãe?
É como se aquela casa estivesse assombrada por uma história com um final demasiado trágico...
Tudo acabou...e não importa onde eu durma, eu sempre vou ter saudades de casa mãe...seja lá o que isso signifique!