Enchi o peito de ar e coragem e caminhei em direção à
capela. Olhei para as flores na entrada, para a porta de vidro fosca, para as
minhas unhas acabadas de pintar, tentando me distrair mas o único lugar onde os
meus olhos queriam estar era naquele chão de cor que nem lembro.
Entrei procurando por ela numa fuga ao gato e ao rato, com
vontade de a ver e vontade de fugir. E finalmente, lá no fundo estava ela…de
branco e preto, sorrindo ao lado do corpo dele.
Fiquei parada a olhá-los sem ela notar a minha presença.
Tentei naqueles segundos de silêncio conhece-lo, pois tudo que havia ouvido
dele eram as maravilhas que ela contava do “seu namoro” como carinhosamente o
apelidava.
Ele ali, serenamente deitado…esperando somente virar cinza…
Não me chocou…devia, esperava por isso…mas não. Sabes porque?
Porque Quando me aproximei dela e a abracei, ela não estava devastada,
nem desesperada nem sufocada…nem tão pouco estava se fazendo de forte para as
visitas. Ela estava realmente serena, dando o seu “até já” ao homem da sua vida…estava
esperando pelo momento dela que sabíamos, está para muito breve. E ela não teme,
não se assusta…
Eu apenas lamentei sabes…porque um amor assim como o deles
merecia mais que 30 anos de paixão… 30 anos não é nada para se viver um amor
verdadeiro…eles deveriam viver eternamente!
E na volta para casa pensei que era um amor assim que eu
queria…porque é esse amor que eu sempre senti por ti. Esse amor de ir contra
tudo e todos e ainda sobreviver…esse amor de não ser capaz de magoar nem de ser
magoada. Esse amor de proteção e de dar a vida por ti. Esse amor que eles sentiam…
Um amor de 30, 40, 50 anos…esse amor que é eterno…até eu
morrer. Esse amor que não cansa, que não é por habituação…que não perde a
paixão. Esse amor que ele sentia por ela e ela por ele.
Esse amor que os faziam perdoar pequenos erros mútuos, que
os faziam acharem-se perfeitos. Esse amor onde não precisavam de mais ninguém
além deles os dois…
Sabes…esse amor onde apesar das rugas, dos corpos
desgastados pelo tempo e doenças, ainda se achavam maravilhosamente lindos.
Esse amor onde nenhum dos dois olhava para outra pessoa além
do parceiro…Esse amor onde apesar do tempo e das mudanças , o amor não mudou um
segundo.
Esse amor que ele sentia por ela quando ao fim de 30 anos
ainda sentia saudades dela só enquanto ela ia ao cabeleireiro….
Esse amor que ela sentia por ele quando jurou morrer depois
dele só para não o deixar sozinho.
Esse tipo de amor que eu sinto cada vez que te olho…cada vez
que faço projetos contigo, cada vez que te protejo e te abraço no meu regresso
do trabalho. Esse amor que sinto hoje e sentirei até morrer…mas que de alguma
forma…tu não pareces sentir igual…
E ela ficou ali…e eu vim embora sabendo que ainda existe o
verdadeiro amor no mundo. Feliz daqueles que o conseguem e que sabem lidar com
tamanho sentimento…
Na certeza de que tu ainda não sabes que esse é o tipo de
amor que eu desejo…o único digno de ser chamado “AMOR”
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