quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Agora você pode me julgar

Não é fácil sentar aqui mãe...sentar e sentir que perdi!
Sentar quase como numa cadeira de tribunal e ser julgada por ti, por todos eles e por mim!
Sinto como se existisse um espelho gigante na minha frente e eu não conseguisse levantar o olhar para me ver...porque eu falhei mãe! Sim, eu falhei...e por muito doloroso que seja admitir que perdi, é muito pior quando sou obrigada a reconhecer que não sei se voltarei a vencer em alguma coisa na minha vida!
Eu sei..eu sei que tu queres que eu me confesse...tu queres ouvir não é?
É...eu me desencontrei de mim.
É, eu meio que caminhei dias inteiros pelas ruas da cidade que eu amo e me dei conta que não tenho nenhum lugar para ir!
Desperdicei horas sem nenhuma ocupação...apenas parada a olhar para nada! E tu sabes o quanto eu valorizo o tempo!
Desiludi uma multidão de pessoas e tive de lidar com todas as enormes desilusões que vivi de cada vez que olhava para mim própria!
Eu nunca quis magoar ninguém mãe...eu não queria...mas inevitavelmente, acho que magoei...e deixei feridas eternas nalgumas pessoas!
Queria que tudo tivesse sido muito diferente, mas não consegui fazer mais nada além de destruição!
Acho que eu sou como um vulcão que fica adormecido durante uns anos e depois decide entrar em erupção sem prévio aviso.
Acho que eu...nunca irei me superar sabes? Acho que tu me tiveste para falhar toda a minha vida...
Não sei exactamente que termo usar, mas tenho a certeza que tu compreendes não é mesmo? Porque grande parte da tua vida deves ter-te sentido assim...meio vazia! E peço perdão...de verdade! Eu, Emma estou aqui pela primeira vez a pedir-te perdão mãe...não por tudo o que eu fiz, não por tudo o que eu te disse, porque sinceramente, mereceste-o. Perdão simplesmente por nunca ter entendido essa melancolia onde tu habitavas...e que eu experimentei algumas vezes no passado mas nunca durante tanto tempo quanto tu. Não conseguia entender porque é que tu insistias em viver assim, e hoje...hoje eu vejo que tu não querias viver assim...mas a vida obrigava-te!
Perdão por nunca ter entendido o que te faltava para seres feliz e hoje sei perfeitamente que às vezes não falta nada na nossa vida...falta sim um pedaço gigante de nós mesmas...que teremos perdido no passado sem darmos por isso!
Perdão por nunca ter percebido porque destruías tudo de bom à tua volta...hoje sei...que talvez faça parte dos genes! Eu também destruo tudo de bom à minha volta!
E agora te pergunto...qual o meu futuro? Eu terei de morrer mãe? Eu terei de morrer para deixar o mundo ser feliz?!
É...eu sei que eles tentam me ajudar. Eu vejo como eles tentam me entender...Mas como se diz a alguém que tu simplesmente não consegues mais respirar quando os teus pulmões ainda não desistiram?!
Como se diz a alguém que tu já morreste e só precisas de um funeral e não de mais tentativas de reanimação?
Como se vive assim mãe?! Porque eu estou prestes a desistir...