quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tropecei no vento

Ela se apaixonou por mim quando eu era inalcansável.
E me amou quando para mim se tornara indiferente.
Sim, ela me amou, porque eu era a única que ela não teria com um estalar de dedos,
eu era de outra pessoa, meu coração pertencia a outro lugar que não às mãos dela.
E enquanto eu era forte e fria, ela se derretia por mim.
Enquanto eu exigia e nada dava ela me dava tudo.
Depois eu me apaixonei. Eu a amei com toda a minha alma.
E o fascínio morreu...
Um troféu ganho, mais uma taça na prateleira. Eu me tornei em nada mais que isso.
Demorou, demorou para eu entender, mas eu entendi.
Eu tropecei no vento enquanto voava, obrigada por roubares minhas asas.
Eu caí no chão, não te preocupes, ``se eu fosse de papel, eu já teria rasgado mas como eu sou de carne eu estou apenas um pouco amassada´´.
Eu quebrei minhas próprias leis ao te amar mais do que amo as estrelas.

Ela, ela roubou minha mente,
acorrentou minha alma por cima de uma fogueira de dimensões exorbitantes.
Ela me matou e eu ainda estou morta,
esperando renascer das cinzas
ou morrer para sempre.
Mas eu me libertarei, de um jeito ou de outro,
porque afinal,
essa é minha última promessa para com ela.

Quem não merece minhas palavras, não merece meu amor!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Eu tinha a certeza
que tu agora irias te esconder.
Eu tinha esperança,
que tu viesses enxugar nossas lágrimas,
Intervindo e salvando o mundo.
Mas novamente eu disse "amo-te"
e continua chovendo.
Com o estrondo dos trovões
Eu mal ouço a tua voz sussurrando através da chuva.
Tu não estás mais aqui,
E cada lágrima que eu chorar,
tu vais senti-la em teu peito um dia.
Cada dor do meu coração,
Tu vais querer tê-la feito desaparecer.
Todos os pedaços da minha alma, não serão suficientes
para reconstruir a tua.
Tu não estás mais aqui agora,
Eu não estarei mais contigo, eternamente"

Cibele Dorsa


"Minha maior qualidade como artista é ser exibida, como pessoa esse é meu maior defeito"~

"Minhas frases são escritas para provocar pensamentos e sugerir conclusões, quem tiver preguiça deve procurar histórias em quadrinhos."

"A mulher forte não precisa, necessariamente, ser a mulher que se coloca como um muro de contenção da opressão masculina."

"A tristeza enriquece meus pensamentos, por vezes, empobrece meu coração, no entanto, acho importante aceitá-la..."



"Quem vive em busca da morte é porque ainda não conheceu a vida."





"Ele suicidou-se por amá-la obsessivamente e isso tornou-o doente, ela
ficou doente com a morte dele...ela suicidou-se por não conseguir viver sem ele. Uma verdadeira história de amor"





segunda-feira, 28 de maio de 2012

Conserte-me

- "Eu sinto a tua falta, a falta das coisas que tu me davas só com palavras, só com a tua presença" - Ela confessou-me no exacto momento em que o mundo acabara de desmoronar mais uma vez, porque o meu mundo desmorona vezes e vezes sem conta e por mais que eu minta, ele não volta a reconstruir-se com a mesma resistência.
Li e reli as palavras tão sinceras, tão reais, as palavras que eu escondo de mim mesma todos os dias ao amanhecer.  
Como eu sinto a falta dessa pessoa que ela fala, falta de qualquer coisa menos o que eu sou agora...eu sinto tanta falta de mim própria...mais do que sinto de qualquer outra coisa que me foi roubada.
As palavras que eu escrevia à alguns anos, recordo-as agora constantemente, talvez na esperança de encontrar pedaços de mim, talvez com esperança de tentar entender o que aconteceu pelo caminho, onde eu fiquei, onde eu me perdi.
As fotografias que ela tem emolduradas no quarto e os vídeos que coloca em play frequentemente, alimentam-lhe a alma, a mim...a mim enfraquecem-ma...eles têm a melhor parte de mim, que eu não sei exactamente se foi real, se foi inteiramente minha...mas pelo menos eu sei que existiu e que não está mais em parte alguma do meu corpo, do meu coração. Rever, me lembra o que eu perdi...e guardar depois novamente no fundo de uma gaveta, me leva tudo embora como pela primeira vez. Me lembra de como sou fraca e imperfeita. 
Crescer tem destas coisas...Leva-nos os sonhos e as realidades que construímos. E eu sonhei muito, eu sonhei tanto que só agora vejo como eram apenas isso mesmo...sonhos. Ainda assim, eu não tenho bem a certeza se algum dia fui mesmo uma criança, se me permitiram que eu fosse, mas de alguma forma, eu dei um tempo a mim mesma para o ser. E nesse tempo eu viajei por lugares onde, tenho a certeza, nunca ninguém foi e ganhei lindas asas brancas que com o tempo escureceram, se tornando cinza...pó. 
Eu faria qualquer coisa para ter essa pessoa de volta. Não importa o quanto eles dizem ser errado, o quanto eu me estaria matando quando só assim eu me sinto viva. 



Eu sinto que todos eles tinham grandes planos para mim...absolutamente todos. Até aqueles que diziam me amar pelo que sou, era uma mentira. As pessoas sempre esperam mais, elas sempre me sugam sem nada me darem de volta. Eles esperavam mais de mim do que eu fui capaz de dar. E eu falhei, falhei em cada missão. Falhei em cada decisão. Falhei em cada luta. Falhei com cada um deles...Falhei comigo! 


sexta-feira, 25 de maio de 2012

(...)Estou naqueles dias em que quero gritar-te tão alto até não restar mais voz. Mas algo me diz que não irias ouvir porque no teu mundo não existe espaço para as minhas palavras.Pensei em pegar no telefone e ligar para o outro lado do mundo e talvez com alguma sorte ouvir a voz do pai, mas depois lembrei-me que na agenda dele não existe nenhum lugar onde o meu nome conste, e, rapidamente percebi que só as estrelas têm tempo para mim. (...)




 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

"És uma criança mas não te comportes como tal,
 aprende a representar o teu papel. 
Senta-te direita, 
usa o garfo certo,
põe o guardanapo no colo, 
diz desculpe, 
diz por favor, 
sorri, 
esconde as lágrimas, 
não faças perguntas, 
escolhe as respostas, 
cuidado com as palavras,
controla-te, 
compõe o vestido, 
cruza as pernas, 
sê delicada.
Sê tudo o que eles desejam que tu sejas."




sexta-feira, 11 de maio de 2012

 Fraca, frágil e ferida!
É isto que eu sou.
Desprezível, exactamente como tu mãe!
Não há ninguém aqui,
não desta vez e eu estou realmente fraca.
Eu tentei ser outra pessoa, 
falar sobre leis que nunca cumpri,
limpar o passado e começar de novo,
Eu tentei apenas, fazer tudo certo.
E eu falhei...eu falhei mãe!
Eu não posso ser outra pessoa quando eu nasci errada!
Tudo em mim é um erro. E quando eu dizia que uma de nós 
tinha de morrer, eu queria dizer que devia ser eu.
Estou cansada de mim...
Não quero mais esforçar-me por futuros que não me pertencem
ou viver vidas que não são definitivamente minhas.
Ficar em casa à noite quando as noites são minhas e não os dias.
Tentar amar e ser de alguém, quando eu não sou de ninguém...
eu sou lixo e lixo anda de mãos em mãos até se cansar.
Eu tentei tanto me manter direita, saudável,
limpa e sóbria....só perdi tempo.
Não há nada para mim aqui...nada mais.
Fraca, frágil e ferida,
pedaços e restos de mim.... 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Não quero mais furtivas lágrimas rolando pelo meu rosto e nem caminhar o tempo todo junto a desfiladeiros."

terça-feira, 8 de maio de 2012

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Parece que foi ontem que o vento parou e o silêncio transformou-se no bater do teu coração quando nos beijámos. Sei, que lembrarei dele para todo o sempre e tenho a certeza que será a última imagem que verei um dia.
É...parece que foi ontem, que nos amávamos como se o tempo estivesse contra nós. Que inocentes, como se toda a nossa vida não chegasse para te beijar todas as manhãs.
Lembro de como entraste em pânico um dia que me magoei no pé, lembraste amor? Agora todo o meu coração sangra, mas não importa mais.
E as juras de amor e lealdade, como eu as cumpri...como se fossem leis universais!
E o frio de que me protegias, nunca me poderia congelar tanto como a falta de protecção que me ofereces agora.
Ontem...eu queria ter ficado adormecida em ontem, onde o teu coração ficou.
Eu sonhava que éramos para sempre e quando me disseram que não era possível eu continuei acreditar, quando tu me provaste que não seria assim, eu batalhei e quando eu mesma entendi isso...eu chorei tanto, eu pude gritar o máximo que consegui mas não adiantou porque eu sabia, eu sempre soube que tinha acabado.
Eu vou sentir saudades e não vou dizer que ficarei bem, que com o tempo passa, que te esquecerei...ambas sabemos que não será assim. Talvez te culpe o resto da vida pela minha infelicidade e pela morte do meu coração...não importa, porque isso não te trará de volta e nem eu quero. É, eu te amo muito, demasiado. Mas não quero, nunca quis, alguém do meu lado que não saiba o que é a sensação de quase sufocar sem o meu beijo, de quase morrer sem o meu toque.
Os "amo-te's" cansaram-me...eu quero provas. Não tive nenhumas.
Contentava-me com palavras. Não ouvi nenhuma.
Demorou, eu sei...mas eu entendi. Entendi de vez e para sempre que acabou. Talvez não aceite ainda, talvez me revolte ainda...é às vezes ainda me apetece correr para os teus braços, bater no teu rosto e gritar que era eu. Sei, que vai apetecer-me isso todos os meus dias, ou porém, talvez um dia apenas me apeteça passar por ti, segurar-te a mão e pedir-te para seres feliz já que eu não o conseguirei ser.
Acho que nunca soubeste realmente como te amei, mas eu soube...como eu soube! E é com essa certeza que nos deixo, que abandono a nossa história em ontem...para que ela possa ser feliz eternamente!


sexta-feira, 4 de maio de 2012

És tudo o que um dia eu procurei 1/2

                                                                        (....)

Dizem que o tempo cura tudo, existem até relatos de grandes amores que com o tempo vão e se esquecem,  existem histórias de quem amou perdidamente uma, duas, três vezes...Perdoem-me a prepotência mas não acredito nisso! Talvez eu seja antiquada ou simplesmente ingénua, mas para mim amores como "Romeu e Julieta" ainda existem. Só não me convençam que se ama assim 2 ou 3 vezes na vida, que nos apaixonamos por várias pessoas com a mesma intensidade, até porque sinceramente acredito que amores destes além de únicos são também muito raros. As pessoas têm fascínios como eu tive, têm paixões arrebatadoras por desejos incontroláveis, mas amor? Amor não é aquele que nos faz ficar nervosas e sem  graça em frente a ele(a), amor não é aquele que nos faz chorar por dias seguidos mas depois segue em frente...Amor verdadeiro é aquele que dizemos dar a vida por ele(a) mas quantas de nós dariam realmente? Amor é isso, é ser capaz de ter a grandeza de tamanho coração ao ponto de abdicarmos do resto da nossa vida em prol de salvar a de outra pessoa. É a possibilidade de lhe oferecer uma vida onde ele(a) pode viver com outra(o) que não nós, porque nós não estaremos mais presentes. Amor verdadeiro é aquele em que dói hoje, dói amanhã e quando formos muito velhinhas continuará a doer e continuaremos a chorar apenas porque a nossa vida foi embora no dia em que ele(a) também foi! Amor verdadeiro é aquele em que prometemos largar tudo e realmente o fazemos, em que lutamos contra tudo e todos e vencemos, em que não importa mais nada além dele(a). Sim, existe. Mas depois de analisarmos bem, quantos amores conhecemos assim?
Não, eu não sou especialista em amor, não acredito que alguém o seja...mas quando cresces dentro de uma história de cinema onde assistes a alguém que larga todos os seus sonhos, toda uma vida e se entrega de corpo e alma por amor, onde esse alguém ama uma vida inteira e se perde por amor, e onde esse mesmo amor a consome até à morte, SIM, tu conheces o amor e os piores efeitos dele! Talvez por isso, durante tanto tempo, eu me tenha recusado admitir que ele existia...
Amor é doentio, obsessivo, torturante, doloroso, cortante, sufocante e destruidor...mas não deixa de ser aquilo que te mantém viva ou definitivamente morta!

Haviam passado meses o suficiente para eu esquecê-la, para todo aquele encantamento vazar da minha cabeça. Meses o suficiente para eu odiá-la não por a ter amado demais, mas por ser o ser humano mais repulsivo à face da terra. O fascínio terminara e eu estava livre, solta, feliz e concentrada em mim...totalmente em mim.
As tardes de Outono eram passadas com a melhor amiga, as noites, eu ocupava-as com mil e um projectos entre faculdade, negócios de amigas, livros e sessões fotográficas.
Quando tu és sozinha tens tanto tempo que parece nunca conseguires ocupá-lo, ainda por cima eu que nos finais de verão fico com tanta energia que nunca parece esgotar-se. Pena que realmente se esgote.
Eu estava curada, todo o meu corpo estava curado, meu coração estava intacto novamente mas estava fria, fria como gelo. Fria, forte e inquebrável...esta era eu!
Mas nas tardes de Outono, eu fui descongelando, os toques dela, o sorriso dela, o carinho dela...todo o esforço por aquela transformação...eu fui sentindo falta, saudades mal saía de perto dela... Olhei o rosto dela e reparei como era linda, não que nunca tivesse reparado, ela era-o de facto, mas penso que nunca tinha reparado tão atentamente. Rosto pequeno e delicado, nariz perfeitamente delineado, o queixo mais bem desenhado que eu já tinha visto, a boca de menina amuada que eu adorava, e aqueles olhos...olhos de quem é frágil o suficiente para me cativar, olhos claros com a luz que me reflectiam a luz do sol, e no escuro, olhos negros, fascinantes, olhos que sem luz, me reflectiam a mim!
Olhei-a toda a tarde e sentia que ela me olhava do mesmo jeito...
Os abraços pareciam nunca serem suficientes e o colo dela era o ninho que eu mais sentia falta quando estava longe.
Nesse fim de tarde, eu regressei a casa..aquela imagem não me saía da cabeça, ela não me saía da cabeça! Minha cama, sempre a minha melhor conselheira, e minhas estrelas, as únicas que conhecem a totalidade da minha alma, ouviram os meus devaneios em silêncio e no fim iluminaram-me...Céus, eu estava apaixonada...apaixonada pela minha melhor amiga!!!

                                                                         (...)



quinta-feira, 3 de maio de 2012

És tudo o que eu um dia procurei 1/1

Eu estava ali...deitada sobre a areia morna. Lembrava de como eu ria daqueles que acreditavam no amor, de todas aquelas lágrimas que eu via caírem de rostos que se diziam não saberem viver sem ele, não encontrarem nunca mais ninguém como ela, talvez até morressem sem aquela presença...e agora ali, eu ria de mim mesma, perdida nas mesmas frases silenciosas que ouvira em tempos. A brisa do mar lembrava-me do frio que todo o meu corpo sentia, da falta que eu sentia.
Costumava frequentar aquela praia quando precisava escrever, pensar, tomar uma decisão, sim, porque eu era uma das pessoas mais ponderadas que conhecera e aquela era uma das mais bonitas praias que já vi...a combinação perfeita para organizar os pensamentos e arquivá-los. Mas naquela noite tudo era diferente, não havia qualquer carinho nas estrelas e nenhum conforto no vento que me envolvia, eu não tinha controlo algum sobre os meus pensamentos e muito menos havia encontrado soluções para arquivá-los, mas estava de facto empenhada em fazê-lo. Uma garrafa de smirnoff acompanhava a minha noite e eu não estava sozinha, mas senti-me assim...apenas eu e a minha garrafa de smirnoff, abstraída de qualquer conversa. 
Naquela noite, eu senti como se tivesse morrido. Bem, eu sentia como se andasse a morrer à meses, mas naquela noite eu pensava ter morrido realmente. Nada tinha mudado, apenas após meses de tortura, eu tinha decidido ir embora...Eu tinha-a deixado, nada que eu não tivesse tentado fazer antes só que desta vez eu sabia que era definitivo, tinha de ser e era isso que mais doía. Sinceramente eu achei que não sobreviveria e desejava apenas morrer rapidamente.
Naquela noite, era nisto que pensava, até lentamente ir apagando, recordando somente de uma leve força me levantando e me deitar num lugar bem mais quente e aconchegante. 
Quando acordei eu não era nada além de uma dor de cabeça e uns olhos assustadoramente inchados. 

                                                                            (...)

Eu nunca tive grandes planos para mim mas de alguma forma todas as pessoas à minha volta depositam grandes feitos em mim e eu sempre dou um jeito de, inocentemente, sabotar esses planos. Não acho que algum dia seja nada do que planearam mas tentei minha vida inteira sê-lo...não por mim, mas por eles. 
Apercebi-me que não sou perfeita, que odeio o mundo o suficiente para querer que ele desapareça e que me odeio ainda mais a mim por desejar por muitos anos que eu mesma desaparecesse. Acho que é isso que me define, não inteligência, mas a perspicácia suficiente para sentar 5 minutos numa mesa e numa curta conversa ver todos os defeitos de alguém que não percebe que estou a olhá-la tão friamente e continua a conversa fluidamente. E é apenas isto que me faz nutrir aquele odiozinho pela humanidade, e não, eu não sou melhor que eles, daí ter tanta dificuldade em viver comigo mesma. 
A mesma perspicácia que me permite conhecê-los, é a mesma que me permite enganá-los. Fingindo ser alguém que não sou, porque é mais simples, ser uma rocha quando sabes que ninguém irá atingi-la e não importa se choras sozinha depois, eles não saberão. 
Acho que com ela foi diferente...ela conheceu-me como se eu fosse a sua derme e eu conheci-a somente como se ela fosse uma galáxia perdida em algum universo muito distante do meu. E eis o fascínio, não foi beleza, não foi atracção, não foi nem mesmo simpatia...foi apenas o sentimento novo de alguém que te lê como um livro tão aberto que tu mesma desconhecias as entre linhas. É essa pessoa que finalmente percebe que tu precisas de cuidados, de tudo aquilo que durante anos deste aos outros e recusaste-te a receber. Foi este o fascínio, e quando eu percebi isso, foi tão fácil...Não era amor, nunca tinha sido. Não podia nunca ter sido amor. Não que eu não pudesse amar alguém para quem eu fosse totalmente transparente, mas não, eu não poderia nunca amar alguém que não conhecia. 
Depois disto, eu tinha a certeza que amor não existia. As pessoas confundiam amor com fascínios, com paixões ardentes e nada mais. 
Eu amava de alma e coração algumas pessoas sim, eu amava aqueles amigos que nasceram quase no berço comigo, os mesmo que me carregaram naquela noite e em noites muitos semelhantes, amava aquela babesitter que merecia toda e qualquer definição de mãe e amava aquela pessoa que te magoa vezes e vezes sem conta mas que tu aguentas firme, a melhor amiga. Sim, por ela era amor, aquele amor puro e doentio, aquele amor de total protecção e dedicação. E até esse amor eu traíra para viver um fascínio da minha cabeça. E quando eu a tive de volta em meus braços, queria pedir perdão mas não o fiz. Não por orgulho, mas porque de alguma forma eu estava livre agora. Eu nunca me desprendera dela um segundo, vivia para ela muito mais do que ela vivia para mim. Esperava acordada de madrugada só para garantir que ela chegava a casa bem depois das suas noites loucas, desesperava quando ela estava doente mais do que acredito que ela desesperasse, desejava protegê-la o resto da minha vida. Mais do que devia, muito mais do que ela merecia. 
Agora era diferente, naqueles meses, sentia como se eu e ela tivéssemos construído um muro impenetrável e apesar disso me entristecer, eu podia sentir-me mais desapegada, mais independente. Ela, ela já o era, sempre o fora...tão independente que magoava e depois de todo aquele tempo eu pensei que ela estaria ainda mais independente. Mas surpreendentemente não. Mantinha a distância como quem tem medo de se estilhaçar em pedaços novamente, mas a cada toque, era como se me implorasse para se derreter em meus braços. E como poderia eu resistir a tanto carinho? Aquela era a minha menina. Mais um livro aberto para mim, pelo menos eu acreditava nisso. 
Quase todas as meninas que se descobrem lésbicas, elas se apaixonam pelas melhores amigas, comigo isso não aconteceu. Anos ao lado dela e nenhum, absolutamente nenhum gesto me fez desejá-la de outra forma. Meu coração era fraco o suficiente para amá-la como amiga, como irmã, mas era forte o suficiente para se negar apaixonar-se por alguém como ela. Eu queria ser a única na vida dela e tinha os maiores ciúmes que alguma vez tive, mas não por querer estar no lugar de quem a beijava, eu só temia que alguma dessas pessoas um dia ocupasse o pequeno lugar a que eu pertencia. Que alguém um dia cuidasse, tratasse, mimasse e se dedicasse tanto a ela quanto eu. Porque aí eu iria perdê-la e eu realmente não sabia como viver sem ela. Por fim, acabei sendo eu a ir embora nos braços de outra pessoa que preenchera todos os vazios que nem mesmo a melhor amiga tinha preenchido. 

                                                                    (...)


As tardes eram mágicas...eu sabia que a mágoa ainda estava ali dentro daquele coraçãozinho frágil mas os sorrisos e os momentos faziam com que por segundos eu e ela esquecêssemos tudo. E pela primeira vez ela cuidava de mim mesmo quando eu não pedia, mimava-me como se durante anos tivesse sido privada de o fazer, olhava-me como se eu fosse o mundo e ela apenas uma criança que quer agarrá-lo inteirinho em suas mãos. Em poucos meses, ela tinha-se tornado naquilo que eu desejei que ela tivesse sido todos aqueles anos e então no maior dos meus egoísmos, eu fiquei feliz por tê-la magoado, por tê-la ferido como ela me tinha ferido tantas vezes, não por vingança mas porque só assim ela tinha entendido que eu tinha valor. Só agora ela me fazia sentir importante em sua vida. Na verdade, pela primeira vez, ela me fazia sentir como se a VIDA dela fosse eu. Estava atenta a todos os meus movimentos, a cada gesto meu, lia o meu rosto tentando decifrar qualquer tristeza ou descontentamento que me levasse novamente para longe dos seus braços. Dizia-me que se alguém se aproximasse de mim, que ela lutaria até me agarrar, fazia-me prometer as mais belas promessas que pode existir numa amizade, temia cada mensagem que chegava ao meu telemóvel, cada segundo que eu demorava a responder-lhe...eu me sentia no céu! Quem não deseja alguém que viva por cada momento ao seu lado? Quem não sonha ser venerada pelo menos uma vez na vida? Eu era, agora eu era...

(...)