sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Parabéns, Mãe

É...estou a 2 dias de fazer anos mãe! Sem qualquer dúvida a data que eu mais odeio no ano...o maldito dia que terei de lembrar para o resto da vida e fingir que tudo está bem, que não me odeio, que estou grata por estar viva, que não sou mentalmente doente! 
E todos os anos, a melodia se repete quando eu me levanto e coloco um enorme sorriso no rosto, capricho na maquilhagem, me visto e arranjo o cabelo só para depois de todos estes anos ainda tentar "dizer-te" que eu sou linda e me amo. 
Todos os anos, eu me lembro de como tu me davas o cartão multibanco e me dizias para comprar o que eu quisesse...Nunca soubeste, mas precisamente nesse dia, nunca comprei nada porque nenhum dinheiro do mundo poderia me dar o que eu procurava. Nunca o soubeste porque nunca me perguntaste no final do dia o que eu tinha comprado, nunca me perguntaste por onde tinha andado nem com quem, o que tinha feito ou se me tinha divertido...
E lembrarei para sempre como o dia do meu aniversário, era para ti a trágica memória do meu nascimento, como os teus olhos vazios pairavam sobre as fotos da sala onde me olhavas e nada de bom, de positivo, de carinhoso brilhava. Portanto, por tudo isto, Parabéns mãe, Porque és tu quem os merece. 
Parabéns por teres permitido que eu nascesse mesmo contra a tua vontade, a MINHA vontade silenciosa! E por teres transformado cada dia da minha vida num inferno quase tão ardente como o teu.
Parabéns por teres tornado a minha respiração quase impossível de me manter viva. E inesperadamente, teres transformado "o flash mais brilhante" da câmara do pai numa Rainha Branca de Neve que ele não conseguiu olhar.
Parabéns por me teres empurrado para um poço de insegurança e ódios, presa e atada numa dor que fica funda e escura mas não desaparece. 
Parabéns por teres sido esse pedaço de nada e por não mereceres um toque, nem uma palavra de compaixão daquela que cresceu dentro de ti. 
Parabéns por toda essa perfeição que eu invejo e odeio, que tu própria odiavas e não vias, por nada mais que um exterior que não correspondia ao interior.
Parabéns por tudo o que fizeste e não fizeste, disseste e não disseste, escondeste, mostraste, revelaste, contaste, segredaste...parabéns mãe, porque eu não os mereço... Pois continuo a vagar por todos esses lugares que foram meus em tempos, e sinto uma saudade tão grande de mim que dói como se me arrancassem a própria pele dos meus ossos. 
Todas as músicas que canto em voz alta, elas contam um excerto de uma história indizível. Tudo o que me ensinaste me fez apenas destruir cada pedaço do meu corpo e tudo o que pensavas de mim, eu também penso!
Todos estes anos depois eu ainda paro para pensar se realmente venci a nossa batalha, porque tu quebraste-te em cinzas mas eu perdi-me num tempo e num espaço de onde ainda não encontrei o caminho de volta a casa. 
E agora, prestes a completar 20 anos,  eu lamento somente a velocidade a que o tempo corre e me deixa para trás. Tudo o que eu ainda tenho para te provar e provar a mim mesma, e a fatídica idade em que tu roubaste o primeira pedra de equilíbrio da tua vida. E Eu PRECISO ser MELHOR!
Embora o relógio tenha mudado...tudo ainda continua igual!




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