quinta-feira, 3 de maio de 2012

És tudo o que eu um dia procurei 1/1

Eu estava ali...deitada sobre a areia morna. Lembrava de como eu ria daqueles que acreditavam no amor, de todas aquelas lágrimas que eu via caírem de rostos que se diziam não saberem viver sem ele, não encontrarem nunca mais ninguém como ela, talvez até morressem sem aquela presença...e agora ali, eu ria de mim mesma, perdida nas mesmas frases silenciosas que ouvira em tempos. A brisa do mar lembrava-me do frio que todo o meu corpo sentia, da falta que eu sentia.
Costumava frequentar aquela praia quando precisava escrever, pensar, tomar uma decisão, sim, porque eu era uma das pessoas mais ponderadas que conhecera e aquela era uma das mais bonitas praias que já vi...a combinação perfeita para organizar os pensamentos e arquivá-los. Mas naquela noite tudo era diferente, não havia qualquer carinho nas estrelas e nenhum conforto no vento que me envolvia, eu não tinha controlo algum sobre os meus pensamentos e muito menos havia encontrado soluções para arquivá-los, mas estava de facto empenhada em fazê-lo. Uma garrafa de smirnoff acompanhava a minha noite e eu não estava sozinha, mas senti-me assim...apenas eu e a minha garrafa de smirnoff, abstraída de qualquer conversa. 
Naquela noite, eu senti como se tivesse morrido. Bem, eu sentia como se andasse a morrer à meses, mas naquela noite eu pensava ter morrido realmente. Nada tinha mudado, apenas após meses de tortura, eu tinha decidido ir embora...Eu tinha-a deixado, nada que eu não tivesse tentado fazer antes só que desta vez eu sabia que era definitivo, tinha de ser e era isso que mais doía. Sinceramente eu achei que não sobreviveria e desejava apenas morrer rapidamente.
Naquela noite, era nisto que pensava, até lentamente ir apagando, recordando somente de uma leve força me levantando e me deitar num lugar bem mais quente e aconchegante. 
Quando acordei eu não era nada além de uma dor de cabeça e uns olhos assustadoramente inchados. 

                                                                            (...)

Eu nunca tive grandes planos para mim mas de alguma forma todas as pessoas à minha volta depositam grandes feitos em mim e eu sempre dou um jeito de, inocentemente, sabotar esses planos. Não acho que algum dia seja nada do que planearam mas tentei minha vida inteira sê-lo...não por mim, mas por eles. 
Apercebi-me que não sou perfeita, que odeio o mundo o suficiente para querer que ele desapareça e que me odeio ainda mais a mim por desejar por muitos anos que eu mesma desaparecesse. Acho que é isso que me define, não inteligência, mas a perspicácia suficiente para sentar 5 minutos numa mesa e numa curta conversa ver todos os defeitos de alguém que não percebe que estou a olhá-la tão friamente e continua a conversa fluidamente. E é apenas isto que me faz nutrir aquele odiozinho pela humanidade, e não, eu não sou melhor que eles, daí ter tanta dificuldade em viver comigo mesma. 
A mesma perspicácia que me permite conhecê-los, é a mesma que me permite enganá-los. Fingindo ser alguém que não sou, porque é mais simples, ser uma rocha quando sabes que ninguém irá atingi-la e não importa se choras sozinha depois, eles não saberão. 
Acho que com ela foi diferente...ela conheceu-me como se eu fosse a sua derme e eu conheci-a somente como se ela fosse uma galáxia perdida em algum universo muito distante do meu. E eis o fascínio, não foi beleza, não foi atracção, não foi nem mesmo simpatia...foi apenas o sentimento novo de alguém que te lê como um livro tão aberto que tu mesma desconhecias as entre linhas. É essa pessoa que finalmente percebe que tu precisas de cuidados, de tudo aquilo que durante anos deste aos outros e recusaste-te a receber. Foi este o fascínio, e quando eu percebi isso, foi tão fácil...Não era amor, nunca tinha sido. Não podia nunca ter sido amor. Não que eu não pudesse amar alguém para quem eu fosse totalmente transparente, mas não, eu não poderia nunca amar alguém que não conhecia. 
Depois disto, eu tinha a certeza que amor não existia. As pessoas confundiam amor com fascínios, com paixões ardentes e nada mais. 
Eu amava de alma e coração algumas pessoas sim, eu amava aqueles amigos que nasceram quase no berço comigo, os mesmo que me carregaram naquela noite e em noites muitos semelhantes, amava aquela babesitter que merecia toda e qualquer definição de mãe e amava aquela pessoa que te magoa vezes e vezes sem conta mas que tu aguentas firme, a melhor amiga. Sim, por ela era amor, aquele amor puro e doentio, aquele amor de total protecção e dedicação. E até esse amor eu traíra para viver um fascínio da minha cabeça. E quando eu a tive de volta em meus braços, queria pedir perdão mas não o fiz. Não por orgulho, mas porque de alguma forma eu estava livre agora. Eu nunca me desprendera dela um segundo, vivia para ela muito mais do que ela vivia para mim. Esperava acordada de madrugada só para garantir que ela chegava a casa bem depois das suas noites loucas, desesperava quando ela estava doente mais do que acredito que ela desesperasse, desejava protegê-la o resto da minha vida. Mais do que devia, muito mais do que ela merecia. 
Agora era diferente, naqueles meses, sentia como se eu e ela tivéssemos construído um muro impenetrável e apesar disso me entristecer, eu podia sentir-me mais desapegada, mais independente. Ela, ela já o era, sempre o fora...tão independente que magoava e depois de todo aquele tempo eu pensei que ela estaria ainda mais independente. Mas surpreendentemente não. Mantinha a distância como quem tem medo de se estilhaçar em pedaços novamente, mas a cada toque, era como se me implorasse para se derreter em meus braços. E como poderia eu resistir a tanto carinho? Aquela era a minha menina. Mais um livro aberto para mim, pelo menos eu acreditava nisso. 
Quase todas as meninas que se descobrem lésbicas, elas se apaixonam pelas melhores amigas, comigo isso não aconteceu. Anos ao lado dela e nenhum, absolutamente nenhum gesto me fez desejá-la de outra forma. Meu coração era fraco o suficiente para amá-la como amiga, como irmã, mas era forte o suficiente para se negar apaixonar-se por alguém como ela. Eu queria ser a única na vida dela e tinha os maiores ciúmes que alguma vez tive, mas não por querer estar no lugar de quem a beijava, eu só temia que alguma dessas pessoas um dia ocupasse o pequeno lugar a que eu pertencia. Que alguém um dia cuidasse, tratasse, mimasse e se dedicasse tanto a ela quanto eu. Porque aí eu iria perdê-la e eu realmente não sabia como viver sem ela. Por fim, acabei sendo eu a ir embora nos braços de outra pessoa que preenchera todos os vazios que nem mesmo a melhor amiga tinha preenchido. 

                                                                    (...)


As tardes eram mágicas...eu sabia que a mágoa ainda estava ali dentro daquele coraçãozinho frágil mas os sorrisos e os momentos faziam com que por segundos eu e ela esquecêssemos tudo. E pela primeira vez ela cuidava de mim mesmo quando eu não pedia, mimava-me como se durante anos tivesse sido privada de o fazer, olhava-me como se eu fosse o mundo e ela apenas uma criança que quer agarrá-lo inteirinho em suas mãos. Em poucos meses, ela tinha-se tornado naquilo que eu desejei que ela tivesse sido todos aqueles anos e então no maior dos meus egoísmos, eu fiquei feliz por tê-la magoado, por tê-la ferido como ela me tinha ferido tantas vezes, não por vingança mas porque só assim ela tinha entendido que eu tinha valor. Só agora ela me fazia sentir importante em sua vida. Na verdade, pela primeira vez, ela me fazia sentir como se a VIDA dela fosse eu. Estava atenta a todos os meus movimentos, a cada gesto meu, lia o meu rosto tentando decifrar qualquer tristeza ou descontentamento que me levasse novamente para longe dos seus braços. Dizia-me que se alguém se aproximasse de mim, que ela lutaria até me agarrar, fazia-me prometer as mais belas promessas que pode existir numa amizade, temia cada mensagem que chegava ao meu telemóvel, cada segundo que eu demorava a responder-lhe...eu me sentia no céu! Quem não deseja alguém que viva por cada momento ao seu lado? Quem não sonha ser venerada pelo menos uma vez na vida? Eu era, agora eu era...

(...)   





2 comentários:

mitra_g_dance disse...

encontrei a pass meu amor!!!!
Amei, amei de coração este texto e suponho que é para continuar
E lembro-me tão bem daquela noite

"Naquela noite, era nisto que pensava, até lentamente ir apagando, recordando somente de uma leve força me levantando e me deitar num lugar bem mais quente e aconchegante." - o zé também se lembra disto haha e diz que nunca pegou em ninguém tão leve, por isso é que gosta tanto de te pegar :D

" Eu nunca tive grandes planos para mim mas de alguma forma todas as pessoas à minha volta depositam grandes feitos em mim e eu sempre dou um jeito de, inocentemente, sabotar esses planos." LINDOOOOOOOO

"...ela conheceu-me como se eu fosse a sua derme e eu conheci-a somente como se ela fosse uma galáxia perdida em algum universo muito distante do meu."

"Mantinha a distância como quem tem medo de se estilhaçar em pedaços novamente, mas a cada toque, era como se me implorasse para se derreter em meus braços."

"Meu coração era fraco o suficiente para amá-la como amiga, como irmã, mas era forte o suficiente para se negar apaixonar-se por alguém como ela."

...................Apaixonei-me totalmente agora *.*

ema santos disse...

Só não esqueces a cabeça porque porque...
simmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm bebe é...
pois deves lembrar, estavas bem mais consciente que o resto...só tu e o zé

ahaha admite, tu já es apaixonada por mim desde que nascemos...