quinta-feira, 19 de abril de 2012

Boa noite, mãe!

Não te tenho escrito, na verdade, tenho escrito mesmo muito pouco. Não sei se me faltam palavras, se simplesmente me faltam forças. Mas hoje, eu preciso escrever-te! E desta vez, eu não vim para discutir, não vim gritar contigo, atirar-te com todas as culpas, dizer-te o quanto te odeio...vim somente, falar frases sem sentido algum, que em outros momentos falaria para as estrelas, mas esta noite até as estrelas me abandonaram mãe! O céu está quase tão vazio quanto eu, e falta-lhe brilho, falta-lhe alma.
Sabes? Desde a última vez que te escrevi, fiquei ruiva, agora eu não serei mais a tua menina loirinha e também não escolhi mais os tons escuros do teu cabelo. Talvez, não me achem mais parecida contigo agora! E tenho dormido muito, tanto, que parece nunca chegar. Cansa-me falar, andar, escrever, céus...cansa-me até respirar! Se eu pudesse, eu nunca acordava! E nunca mais teria de vestir-me, passar o lápis pelos olhos e sair à rua fingindo tudo estar bem...Porque não está mãe! A médica disse que eu estou doente, eu já sabia, mas quando ouves a certeza, sentes-te a pessoas mais inútil do planeta! Depois, ela sentou-se e disse que a culpa não era minha, que era da vida, das pessoas que magoam sem se preocuparem...fácil falar! Mas sou eu que sou fraca para cair tão fundo! Não voltei lá...não quero ouvir pela segunda ou terceira vez palavras que nada mudam...
Da primeira vez eu quis provar a mim mesma que era capaz de lutar contra isto, mas desta vez, eu realmente não quero saber...eu apenas sinto saudades...sinto tantas saudades de ser uma miúda e ter toda a energia mãe, sinto saudades de ter vontade de discutir, de contrariar, de gritar, de dançar...eu perdi a vontade de tudo. E pela primeira vez, eu amo o silêncio...é tão dolorosamente consolador e envolvente.
E é quando eu penso que talvez, pela primeira vez, eu sinta um pouco de como tu te sentias...e não sinto arrependimento...sinto pena! Não sei se seria capaz de aguentar isto por anos, mas tu conseguiste e isso é admirável!
Não sei se algum dia serei capaz de voltar a gostar do mundo, ou sequer se serei capaz de gostar de mim mesma, se as pessoas serão capazes de perceberem quando me fazem mal, ou se eu serei capaz de deixar de viver na sombra delas, não sei nada mãe...hoje, eu apenas sei que queria estar longe do mundo, embrulhada numa camisola de lã daquelas que me fazem sentir aconchegada, sentada em frente a uma bonita lareira enquanto ouvia chover lá fora e não ter nada para fazer amanhã, nenhum lugar para ir, nenhum pensamento em minha cabeça...e talvez, assim, ela parasse de doer por um momento! Pena que as minhas noites não são como desejo...

Com a certeza de que todas as tuas noites têm sido como escolheste,
               Boa Noite Mãe!


2 comentários:

mitra_g_dance disse...

"vim somente, falar frases sem sentido algum, que em outros momentos falaria para as estrelas, mas esta noite até as estrelas me abandonaram mãe! O céu está quase tão vazio quanto eu, e falta-lhe brilho, falta-lhe alma."

"E pela primeira vez, eu amo o silêncio...é tão dolorosamente consolador e envolvente."

"hoje, eu apenas sei que queria estar longe do mundo, embrulhada numa camisola de lã daquelas que me fazem sentir aconchegada, sentada em frente a uma bonita lareira enquanto ouvia chover lá fora"

"Com a certeza de que todas as tuas noites têm sido como escolheste,"

Este texto está taooo :'( triste mas perfeito. quando quiseres estar embrulhadinha numa camisola de lá, quentinha, longe do mundo, chama-me, tu sabes que eu te vou buscar a qulquer hora

ema santos disse...

gostaste amor?
ohhh eu seiii, quem vem às 3h da manhã trazer-me pizza a casa só pq me apetecia, acho que prova que faz qualquer coisa ahaha